sexta-feira, setembro 15, 2006

Fragmentos poéticos... A Sensível Pele da Relação

[Contradições, contrapontos...desalinhos!]

Ainda ontem, eu parecia eterno,
Meu ser navegava num oceano infinito.
Mas esta manhã, olho no espelho
E vejo uma mancha-surpresa na pele;

A primeira coisa em que penso: é a idade;
O meu tempo desenhando-se no rosto,
O vesperal da podridão das minhas carnes,
O absurdo fim da vida já se aproximando?!

Pois foi assim que senti o primeiro baque,
O primeiro choque na relação amorosa:
Uma súbita queda do pedestal da ilusão
Foi o preço de eu não ser só epidérmico.

Desenhou-se em meu rosto não o tempo,
Mas o estupor do luto da perda iminente,
O vazio já prenunciado no grito surdo,
A larga solidão do leito frio a me esperar...

Será exagero? Não há amor sem exageros;
Como poderia eu ser apenas epidérmico
E ainda assim cavalgar pelos páramos
Do gozo que se prolonga até o amanhecer?

[Se acaso não sabes, vida é a contrapelo!]
Das relações... Instâncias do Amor: filhos

" Um filho é uma outra hipótese de vida, é o que não fomos, na melhor das hipóteses, herda-nos o lixo --- angústias cegas, impaciências, o barro que resiste à modelagem, o que não quisemos ser...

Conheci muitas crianças feitas no desespero de uma reconciliação, concebidas in memoriam da felicidade de outrora. Outras marcavam o auge exacto da paixão --- momento do esplendor antes da morte. Todos os filhos nascem póstumos de um amor que já não flutua no ar que respiram."

(Inês Pedrosa --- "Fazes-me falta" -- Editora Planeta do Brasil - 2003)