quinta-feira, março 15, 2007

A Aumentada Esperança de Perdurar...

Ainda a pedra e o barro — parece-me que ao dar forma ao barro, ou à pedra, você se deixa aí, nas formas surgidas de suas mãos; ficam aí as marcas da sua passagem — durarão o tempo-natureza, o tempo dos ventos corrosivos, o tempo das estações, das intempéries destruidoras. Mesmo assim, a esfinge resiste lá no deserto egípcio.

Verdade isto aí? Não é não... ou é apenas meia-verdade! Foi-se o tempo em que os homens perdiam as coisas preciosas; derrubavam as esculturas, bombardeavam o Partenon para desentocar os turcos que lá fizeram um paiol de munições; incendiavam bibliotecas, a de Alexandria, que pena. Agora, tudo está guardado em algum lugar, até mesmo na casa do saqueador de museus e bibliotecas. E em algum século, passado o tempo do lucro, da ganância, tudo vem à luz, herdeiros falidos se desfarão das peças, dos manuscritos. E agora, temos a memória eletrônica mundial, adoro estes tempos, esta dificilmente será destruída, a menos do choque de um meteoro, como o da teoria da destruição dos dinossauros. Assim, há alguma aumentada esperança de perdurar... para quê? Perdurar é sem razão objetiva, é apenas perdurar, ser, estar disponível para...

quarta-feira, março 14, 2007

Por que nos odiamos?

Se é mais fácil, mais macio o amor, se é mais bela a compreensão nascida do mútuo conhecimento, então por que nos odiamos? Por que temos de dar razão ao ditado - "o homem é lobo do homem"? Há muito aprendi a lição da pedra... eis a minha face de pedra: não choro pelos que se vão de mim imbuídos de surda dor e muda descompreensão, não lamento a perda de quem não sabe de justiça, de quem julga-me pela voz de terceiros, não sinto falta de quem mastiga o pão do ressentimento, do ódio contra mim.

sexta-feira, março 09, 2007

Quando eu choro por coisas antigas...

Será uma espécie de neurose, o amor por uma cidade? Será? Ser neurótico, ao que diz Freud, é chorar copiosamente por um acontecimento antigo, como se estivesse ocorrendo agora.

Pois eu acho que sou assim, neurótico:
Quando fui a Vila Rica (não fui a Ouro Preto),
Eu chorei pela morte de Tiradentes;
E quando eu vou a São Paulo,
O meu olhar ainda se umedece
Da garoa das manhãs da Rua Tabatinguera!
De repente...

A certos "escaladores de montanhas": escorar a escada do sucesso na parede errada pode resultar em queda brusca e fatal. Haja talento para tirar leite de pedra!
Pasárgada fica em São Paulo...

Em tempo: a poesia abandonou-me... sei e não sei o que é poesia; agora, só tenho vontade de "prosa". Deve ser coisas desses dias malucos, brancos que estou a passar. Dias de pensar excessivamente na morte, pensar na vida passando, e ouvir as mulheres jovens chamando-me "senhor"... ah, que dor, que dor ficar velho! Preferia uma trombada logo de uma vez, um copo de veneno! Essa noite fui para os bares às 2h30... tarde, muito tarde para esta Penas do Desterro, cidade onde o demônio passou o rabo de fogo; tudo fechado, nem elas estavam na rua para um papo...
Ah, que saudades da minha São Paulo, que saudades! Madrugada dessas, o que é me segura, tampo as placas do carro e vou a 160 km/h para a Bôca do Lixo! Beber num bar-fecha-nunca... The Town that never sleeps... de noite, alta madrugada, São Paulo ronrona diferente... fica mais macia... eu me acho nestas ruas. Ficar sóbrio, neste mundo, eu?! Pra quê? Meu tio "Ôncio" é que tinha razão, passou a vida toda assim, nem bêbado, nem são, apenas meio "trolado" de pinga... e morreu feliz. Pasárgada, fica em São Paulo, é pra lá que eu vou!
Estado de amar, estado de ser

Quando a gente ama, sente prazer intenso, gozo intenso, é nesse quando que a gente é doido? Isso é a loucura? Uns dizem que sim, mas eu acho que não! Amando, tendo prazer a gente fica sem préstimo para o mundo, por isso, o mundo chama de doido quem está amando. O mundo é doido — eu lá quero ter préstimo pro mundo?! Sou tributável, localizável; exigem trabalho de mim, como seu fosse boi carreiro — e sou? Sou não, sou não... ou antes, só quando estou amando é que não sou boi carreiro do mundo; nem tributável, nem localizável, nem ferrável. Quando estou amando, eu sou eu, estou próximo de mim, toco minha essência, entrelaço com quem me ama... crio asas...