segunda-feira, dezembro 31, 2007

Ainda há gente que perde tempo comigo....

Geralmente, esqueço logo o que faço, o que escrevo, o que penso... esqueço também o que escrevem, o que pensam, o que fazem os outros. Há neste meu modo de ser uma vontade de renovo: eu quero ficar novo de novo, quero ficar novo como a imensa folha da taioba-do-brejo, em cuja superfície verde-esperança, uma gota d'água, ao escorrer, é sempre novidade, é sempre uma festa de luz líquida!
Quero ficar novo para ser um pouso novo para um novo amor... novo como uma flor que espera a visita de uma beija-flor que apenas voou de outra flor, que eu nem vi, e não quero ver...
Eu procuro, nem sempre consigo, não ter memória para certas coisas... eu me preocupo, mas também não me preocupo com a presença aos meus textos... gosto da presença dos outros nos meus arredores, mas logo os esqueço, pois quero mais e mais presenças, mais e mais bulidas comigo... para logo as esquecer e logo estar a esperar pelas novas presenças..., e assim por diante. Tenho, mas não tenho memória... depende... nunca se sabe! E ainda assim, tem gente que perde tempo comigo... por que será?

sexta-feira, dezembro 28, 2007

A ilusão erótica de algumas mulheres...

[Um atrevimento meu escrever sobre este tema! Nada pretendo acrescentar de novo, mas apenas manifestar minha insurgência contra a proliferação dos autoproclamados "textos eróticos" - a maioria destes textos não passa mesmo de velha e barata pornografia!]

Rio-me dos textos eróticos que algumas mulheres escrevem... Elas parecem não saber que aquilo que tanto desejam e descrevem com tanta ardência — a energia sexual do homem, a sua força dominadora (ou a subjugação da fêmea desejante), os orgasmos múltiplos, as viagens aladas dos corpos enfim unidos, ou as noturnas e loucas cavalgadas que só terminam ao amanhecer — só pode ser verdadeiramente atingido a partir de uma compreensão [ampliada] da fragilidade, da insegurança que a maioria dos homens mal disfarça...

O homem descrito nesses textos ditos "eróticos" só pode estar drogado, ou atacado de priapismo mórbido — jamais encarnaria um ser pleno de amor e de sublime respeito à sua parceira!

[Obs. Rio-me mais ainda dos textos eróticos que alguns homens escrevem por que eles não admitem a própria fraqueza, e às vezes, disfarçam-na com desrespeito e até violência contra a mulher! E rio-me, acima de tudo, por que vejo que tais homens não aprenderam com o adivinho Tirésias que a mulher tem a fruição de nove entre dez partes do prazer de uma relação sexual — o grande segredo feminino, que, paradoxalmente, muitas mulheres ignoram!]

Os sonhos e os dias

Não sonhar é trazer a secura n'alma,
é o tédio da ausência de projetos,
é o fim das possibilidades,
é trazer a libido na sola dos sapatos.
Inebriar-me com os meus sonhos, ter asas nos pés... Voar sobre as paisagens do meu imaginário - eis o meu jeito de me sentir vivo!
Acredito, com Gaston Bachelard, que "... Para algumas almas, ébrias de onirismo, os dias são feitos para explicar as noites".

sábado, abril 28, 2007

Travessias: Transitando pelo Sonho de uma Rua: Fragmentos
... Ou terei sonhado? Ou terei escutado isso de alguém? Mas eu vi, eu sei que vi aquele cano brilhante do revólver mexendo a bebida num copo de vidro, eu vi! E vi aquele cachorro fugindo, ganindo do chute que levou no quarto traseiro...
Dias depois, repete-se o sonho, volta o quadro, e agora, o que era, o que eu vi? Um corpo, estirado na calçada, coberto com um lençol branco, dois tiros apenas, e pelas costas. Mas, agora, parecia ser outro tempo, outro morto... É, pensando bem, acho que este era o Édio Garimpeiro, eu vi os seus cabelos pretos, espetados, sob o lençol branco, ralinho, ralinho, coisa de pobre. Ah, o Édio era um caboclo daqueles, moiado meeesmo! Morria, mas nunca ia beber bebida que alguém mexeu com o cano do revólver! Ah, matar o Édio, só se fosse mesmo pelas costas...
Sim, este era outro morto, em outra calçada, em outra rua, esta diferente daquela do outro sonho — mas, na mesma cidade?! Será? Qual cidade, quando, não sei... pois na outra rua, aquela em frente ao Triângulo, o outro afinou, bebeu a bebida mexida pelo pistoleiro, e não chegou a haver morte, só aquele cachorro saiu ganindo da venda... naquela outra calçada, o morto, se existiu, foi em outro sonho...
Esses relatos são fragmentos, brotações de realidade enxertados no sonho, ou o contrário, fragmentos de sonhos enxertados na realidade — não importa. Só carecem de ser postos no jeito, organizados minimamente, senão, ninguém entende nada, nem eu...
Mas, com isso de alguém me entender, na verdade das verdades mesmo, eu nem me importo mais; já perdi essa esperança, faz tempo... se você quer mesmo saber, eu até já morri, já fui... Afinal, isto, estes pedaços de sonhos, não são coisas pra ninguém entender, são desdobres do meu tempo, é só mesmo por conta dessa mania de escrever. Ou então, o mais certo, é para ser aos conformes do entendimento de cada um! Quem viveu, se viu, viu; se não viu, então não viu, isto é, só não viu, mas pode sonhar o meu sonho, se quiser.
Travessias — tudo é só umas fervurinhas na mente!

quinta-feira, março 15, 2007

A Aumentada Esperança de Perdurar...

Ainda a pedra e o barro — parece-me que ao dar forma ao barro, ou à pedra, você se deixa aí, nas formas surgidas de suas mãos; ficam aí as marcas da sua passagem — durarão o tempo-natureza, o tempo dos ventos corrosivos, o tempo das estações, das intempéries destruidoras. Mesmo assim, a esfinge resiste lá no deserto egípcio.

Verdade isto aí? Não é não... ou é apenas meia-verdade! Foi-se o tempo em que os homens perdiam as coisas preciosas; derrubavam as esculturas, bombardeavam o Partenon para desentocar os turcos que lá fizeram um paiol de munições; incendiavam bibliotecas, a de Alexandria, que pena. Agora, tudo está guardado em algum lugar, até mesmo na casa do saqueador de museus e bibliotecas. E em algum século, passado o tempo do lucro, da ganância, tudo vem à luz, herdeiros falidos se desfarão das peças, dos manuscritos. E agora, temos a memória eletrônica mundial, adoro estes tempos, esta dificilmente será destruída, a menos do choque de um meteoro, como o da teoria da destruição dos dinossauros. Assim, há alguma aumentada esperança de perdurar... para quê? Perdurar é sem razão objetiva, é apenas perdurar, ser, estar disponível para...

quarta-feira, março 14, 2007

Por que nos odiamos?

Se é mais fácil, mais macio o amor, se é mais bela a compreensão nascida do mútuo conhecimento, então por que nos odiamos? Por que temos de dar razão ao ditado - "o homem é lobo do homem"? Há muito aprendi a lição da pedra... eis a minha face de pedra: não choro pelos que se vão de mim imbuídos de surda dor e muda descompreensão, não lamento a perda de quem não sabe de justiça, de quem julga-me pela voz de terceiros, não sinto falta de quem mastiga o pão do ressentimento, do ódio contra mim.

sexta-feira, março 09, 2007

Quando eu choro por coisas antigas...

Será uma espécie de neurose, o amor por uma cidade? Será? Ser neurótico, ao que diz Freud, é chorar copiosamente por um acontecimento antigo, como se estivesse ocorrendo agora.

Pois eu acho que sou assim, neurótico:
Quando fui a Vila Rica (não fui a Ouro Preto),
Eu chorei pela morte de Tiradentes;
E quando eu vou a São Paulo,
O meu olhar ainda se umedece
Da garoa das manhãs da Rua Tabatinguera!
De repente...

A certos "escaladores de montanhas": escorar a escada do sucesso na parede errada pode resultar em queda brusca e fatal. Haja talento para tirar leite de pedra!
Pasárgada fica em São Paulo...

Em tempo: a poesia abandonou-me... sei e não sei o que é poesia; agora, só tenho vontade de "prosa". Deve ser coisas desses dias malucos, brancos que estou a passar. Dias de pensar excessivamente na morte, pensar na vida passando, e ouvir as mulheres jovens chamando-me "senhor"... ah, que dor, que dor ficar velho! Preferia uma trombada logo de uma vez, um copo de veneno! Essa noite fui para os bares às 2h30... tarde, muito tarde para esta Penas do Desterro, cidade onde o demônio passou o rabo de fogo; tudo fechado, nem elas estavam na rua para um papo...
Ah, que saudades da minha São Paulo, que saudades! Madrugada dessas, o que é me segura, tampo as placas do carro e vou a 160 km/h para a Bôca do Lixo! Beber num bar-fecha-nunca... The Town that never sleeps... de noite, alta madrugada, São Paulo ronrona diferente... fica mais macia... eu me acho nestas ruas. Ficar sóbrio, neste mundo, eu?! Pra quê? Meu tio "Ôncio" é que tinha razão, passou a vida toda assim, nem bêbado, nem são, apenas meio "trolado" de pinga... e morreu feliz. Pasárgada, fica em São Paulo, é pra lá que eu vou!
Estado de amar, estado de ser

Quando a gente ama, sente prazer intenso, gozo intenso, é nesse quando que a gente é doido? Isso é a loucura? Uns dizem que sim, mas eu acho que não! Amando, tendo prazer a gente fica sem préstimo para o mundo, por isso, o mundo chama de doido quem está amando. O mundo é doido — eu lá quero ter préstimo pro mundo?! Sou tributável, localizável; exigem trabalho de mim, como seu fosse boi carreiro — e sou? Sou não, sou não... ou antes, só quando estou amando é que não sou boi carreiro do mundo; nem tributável, nem localizável, nem ferrável. Quando estou amando, eu sou eu, estou próximo de mim, toco minha essência, entrelaço com quem me ama... crio asas...

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Sobre o ser excessivo:

Dou-me assim, gota a gota.
Não queira mais, posso amargar...