quinta-feira, outubro 02, 2008

Distâncias, trajetórias, vertigens

Distâncias... a vida só faz criar distâncias. Abate-me um tédio quase irremediável, e então, penso que devo partir, e parto. Ou separo. Ou corto. Ou dilacero o que não deveria ser dilacerado. Tomo distância do foco, do centro, da matriz, da nutriz antes tão desejada. Afasto-me como se agora eu fora um ponto que se afasta da origem. É claro, falo do pimeiro passo depois do cansaço, da perda de tudo. Falo desse ponto de onde parti pensando num horizonte ficado lá atrás, como aquele ponto onde comecei desenhar a primeira letra de um teto extenso - e há sempre esse primeiro pontinho! Depois, novamente o imponderável, depois, a busca de um foco, de um centro, de uma matriz, uma nutriz de meus desejos neste instante, colocada longe, bem longe, como o fim duma estrada a ser vencida. Depois, outra fuga! Trajetórias: vertigens!
Tudo são vertigens nesta caminhada. O tédio se manifesta na distância de mim até mim, a mais imponderável e insuportável de todas as distâncias. Andar longe de mim é estar longe do que mais gosto, do que mais quero, e fazer do sonho apenas sonho, uma fumaça que se esvaece. Não tenho a obrigação de ser conexo, mas sei que engendro sentidos. Geralmente, tudo acaba mal, e andar longe de mim é jamais conseguir terminar bem terminado o que antes fora começado, seja lá o que fôr! É deixar a frase assim, no "ó"...

segunda-feira, setembro 15, 2008

Spinning World

Um repto à sua liberdade: um dia você cria coragem e fala! Um dia. Ou nem isso, pois talvez a vida não lhe dê tempo e corte antes o seu fôlego. Pena, pois só você perde, o resto ri... ou nem ri, só vai em frente. O gozo que podia ter... e não teve, passou adiante!

Partículas nossas, átomos, voltarão à Natureza. Pode ser até que, voltando, façam parte das cores íntimas de uma pedra. Toda vez que vejo uma pedra, penso que pelo menos um de seus atomos já fez parte de um corpo que amou, matou, odiou... Deve ser por que vejo deus assim, espalhado na Natureza... a energia das coisas. A vida vale nada, nada não!

Um dia você cria coragem e fala. Um dia. Antes que seus átomos retornem à mineralidade da Natureza, você gritará um nome que traz sufocado em seu peito. E quando você voltar a ser rocha, qual será a sua cor? [Não, você não fala, mas você não é rocha agora!]. A cor da hesitação, qual é?!

A minha cor mineral será amarela, ou ocre, pois são as cores do tédio que me mata. Tédio de existir, tédio latente até nos meus átomos.

Um dia você cria coragem, e então, você fala, você grita. Pena, mas eu não posso esperar. This is a spinning world - sabia?!

O Forasteiro

Não importa o que eu faça: serei sempre um forasteiro entre circunstantes hostis, nasci com esta sina.

sábado, setembro 13, 2008

Agonia

Eu sou agônico - que posso fazer? Cresci com o sentido do Fim - "se tinha de morrer, para que nascer?" Minha visão primeira neste mundo, mostrada pela minha mãe, foi a cova de meu pai - sob o sol quente do Planalto Central do Brasil, eu vi o sentido último da vida - somos; sim, somos; mas somos seres para a Morte! Uau! Que visão para os meus quatro aninhos de vida! Hoje vejo que eu não teria capacidade para uma didática tão terrívelmente eficaz como a da minha mãe - ela golpeou, de uma vez por todas, qualquer tendência que eu pudesse ter para a vaidade!

Nunca - e como o lamento! - nunca agradeci à minha mãe por ela ter me tirado a venda escura dos olhos, ainda tão cedo - aos 4 anos de idade! Isto sim, é que é a verdadeira cura da cegueira! Desde então, sinto pena quem vive como se não fosse um ser para a morte, de quem gasta seus dias juntando, amelhando para o Vazio, para o Nada!

Este é o meu sentido para vida: ser agônico, permanentemente agônico, mas aprendendo a viver o gozo, a clareira luminosa de um instante!

Encontro

Pensando em voz alta...
Aquela linda flor caída na correnteza mais acima, acaba de entrar no remanso do rio onde eu estava a meditar sobre as coisas perdidas na cavalgada. Olhei-a flutuar no suave balanço da água... e na segunda volta que deu no rebojo da correnteza do remanso, estendi a mão, retirei-a da água e levei-a, úmida, até os meus lábios... ah, a carícia das suaves pétalas molhadas, o almíscar da fêmea flor em meus lábios, a magia do raro encontro... mas, descuidado, deixei que as águas a levassem de mim... perder é a lei do mundo!

Como pude?

"A glória do dever nasce da cabeça cortada do Amor" - Milan Kundera in "A Vida Está em Outro Lugar" -

E assim sendo, como pude deixar que tal coisa me acontecesse? Como pude? E pior, não aconteceu somente a mim, mas também a quem me amava... A faca estava na minha mão, fui eu o algoz de mim, do meu amor - Ah, a glória do dever tem gosto de morte!

terça-feira, agosto 05, 2008

Vastidão

Num vasto mar, um velho mar de idéias heterogêneas, é verdade, sobrenadam minhas agitadas terminações nervosas. E na suave declividade do ocaso, rebanhos de pensamentos meus apascentam-se na complexidade macia da paisagem. Ajeito no lombo cansado a minha parcela da carga do mundo, pois tenho minha particular maneira de ser ferido, e só então, só então, cingindo-me de alguma ousadia, ponho-me a modo de escrever.

Lamento

Ah, essa falta de sua voz!
Olha só, você precisava saber...
Às quatro da manhã,
Que absurdo — eu estava só!
Lembrei-me do que você me disse,
Que eu poderia ligar quando quisesse,
Quando me sentisse só!

Mas e agora, e agora?
Deito-me no lado frio de meu leito...

segunda-feira, março 17, 2008

Não quero falar de...

Não quero falar de outra coisa: precisava saber onde habitar com você, onde pousar minha cabeça tão cansada, sem lhe onerar os passos. Não quero falar de outra coisa: precisava, mas precisava mesmo, entender você, entender suas razões (nem todas, é claro). Não quero falar de outra coisa: precisava entender por que você liga pra mim, quando eu já lhe disse que nada tenho a lhe oferecer... exceto essa minha tentativa de estar presente em seu mundo (em parte dele, pelo menos). Diante de nós dois, dos nossos passos, o Tempo abriu uma fratura... podemos então ser nesta breve duração - o proibido agora é nosso, vamos?

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

A Arte da Sedução Feminina

ah... se toda mulher compreendesse que a sedução começa quando ela reconhece [e acalenta] a fragilidade do homem! Ah... se isto fosse possível - eu seria seduzido a cada passo, a cada encontro, a cada entardecer!
A fina arte da sedução feminina vem de saber fazer-se essencial, necessária ao indisfarçado instante de fragilidade do homem!

domingo, fevereiro 24, 2008

Preâmbulo para Qualquer Poema

Um nunca sabe por que escreve, por que narra certas coisas... apenas para confirmar que a regressão é sempre errada, errosa? É, mas também não é... não há resposta cabal!
Há uma violência no ato de escrever, um atrevimento, uma loucura, uma besteira... ninguém me pediu que escrevesse, ninguém me paga para que eu escreva - meus escritos têm a mesma fenomenologia da baba do boi carreiro que, finda a dura jornada, apenas aguarda a descanga: surge na lenta mascação e escorre, cai na poeira do curral, sem compromisso com nada, sem dever nada a ninguém... mero testemunho de um certo modo de caminhar!
Eu sou aquele que faz perguntas e dá as costas para qualquer possibilidade de resposta - não estou interessado em respostas...

[Penas do Desterro, 24 de fevereiro de 2008]

Tempos bicudos

É sempre tempo de repetir a pergunta: por que viver? Dois conceitos inúteis, vazios, ocos — o Ser e o Amor — infestam uma inutilidade maior, um absurdo chamado "vida". Ninguém consegue formular uma explicação cabal para estas "coisas", mas delas falamos o tempo todo, o tempo todo... até que nos cesse o sopro das narinas!

terça-feira, janeiro 08, 2008

É Forçoso Entoar uma Despedida

Tem horas em que as flores, a música da noite, os bares, a visão das belas mulheres — tudo, enfim, compõe-se numa perda que avulta, vem sobre mim no negrume de um assalto inevitável, e prancha-me na cara a vertigem desta realidade: o meu tempo passou!! O sentido das coisas foge, a alma voa, refugia-se em criptas escuras, frias.

Esta imagem só me dá descanso em alguns breves intervalos de tempo, principalmente naqueles em que eu não estou só... aí, eu até pareço alegre: engano bem! Meus pés mal suportam pisar os escombros de tantas possibilidades; sei que devo resignar-me: submergir os sonhos, não mais olhar estrelas à noite, e entoar uma despedida.