segunda-feira, setembro 15, 2008

Spinning World

Um repto à sua liberdade: um dia você cria coragem e fala! Um dia. Ou nem isso, pois talvez a vida não lhe dê tempo e corte antes o seu fôlego. Pena, pois só você perde, o resto ri... ou nem ri, só vai em frente. O gozo que podia ter... e não teve, passou adiante!

Partículas nossas, átomos, voltarão à Natureza. Pode ser até que, voltando, façam parte das cores íntimas de uma pedra. Toda vez que vejo uma pedra, penso que pelo menos um de seus atomos já fez parte de um corpo que amou, matou, odiou... Deve ser por que vejo deus assim, espalhado na Natureza... a energia das coisas. A vida vale nada, nada não!

Um dia você cria coragem e fala. Um dia. Antes que seus átomos retornem à mineralidade da Natureza, você gritará um nome que traz sufocado em seu peito. E quando você voltar a ser rocha, qual será a sua cor? [Não, você não fala, mas você não é rocha agora!]. A cor da hesitação, qual é?!

A minha cor mineral será amarela, ou ocre, pois são as cores do tédio que me mata. Tédio de existir, tédio latente até nos meus átomos.

Um dia você cria coragem, e então, você fala, você grita. Pena, mas eu não posso esperar. This is a spinning world - sabia?!

O Forasteiro

Não importa o que eu faça: serei sempre um forasteiro entre circunstantes hostis, nasci com esta sina.

sábado, setembro 13, 2008

Agonia

Eu sou agônico - que posso fazer? Cresci com o sentido do Fim - "se tinha de morrer, para que nascer?" Minha visão primeira neste mundo, mostrada pela minha mãe, foi a cova de meu pai - sob o sol quente do Planalto Central do Brasil, eu vi o sentido último da vida - somos; sim, somos; mas somos seres para a Morte! Uau! Que visão para os meus quatro aninhos de vida! Hoje vejo que eu não teria capacidade para uma didática tão terrívelmente eficaz como a da minha mãe - ela golpeou, de uma vez por todas, qualquer tendência que eu pudesse ter para a vaidade!

Nunca - e como o lamento! - nunca agradeci à minha mãe por ela ter me tirado a venda escura dos olhos, ainda tão cedo - aos 4 anos de idade! Isto sim, é que é a verdadeira cura da cegueira! Desde então, sinto pena quem vive como se não fosse um ser para a morte, de quem gasta seus dias juntando, amelhando para o Vazio, para o Nada!

Este é o meu sentido para vida: ser agônico, permanentemente agônico, mas aprendendo a viver o gozo, a clareira luminosa de um instante!

Encontro

Pensando em voz alta...
Aquela linda flor caída na correnteza mais acima, acaba de entrar no remanso do rio onde eu estava a meditar sobre as coisas perdidas na cavalgada. Olhei-a flutuar no suave balanço da água... e na segunda volta que deu no rebojo da correnteza do remanso, estendi a mão, retirei-a da água e levei-a, úmida, até os meus lábios... ah, a carícia das suaves pétalas molhadas, o almíscar da fêmea flor em meus lábios, a magia do raro encontro... mas, descuidado, deixei que as águas a levassem de mim... perder é a lei do mundo!

Como pude?

"A glória do dever nasce da cabeça cortada do Amor" - Milan Kundera in "A Vida Está em Outro Lugar" -

E assim sendo, como pude deixar que tal coisa me acontecesse? Como pude? E pior, não aconteceu somente a mim, mas também a quem me amava... A faca estava na minha mão, fui eu o algoz de mim, do meu amor - Ah, a glória do dever tem gosto de morte!