quinta-feira, julho 30, 2009

Outra manhã...

Acordei, o que de modo algum é obvio - eu poderia não ter acordado! - e mesmo sob o céu de chumbo de Penas do Desterro, este não-lugar, eu estava otimista para o dia - o que não é usual! Mero registro; é apenas outra manhã nesta minha longa vida!

segunda-feira, julho 27, 2009

Diário do fim do [meu] mundo...

...ainda a ler Annie Cohen-Solal, "Sartre". Chegando à pág. 400, eu me pergunto: de que me serve, eu estaria bem melhor lendo um romance, biografias é coisa para gente compulsiva - compulsiva de saber mais sobre a vida de um autor, a outra vida, a particular, a que não se mostra claramente nos textos do autor. Será que interessa mesmo saber, por exemplo, as circunstâncias em que Dostoievsky escreveu "Os Irmãos Karamazov"? Será? Não basta a densa beleza da obra em si?
Ah, mas vou ler ACS até o fim, vou sim!

Esta viagem Infernal de longa

E naquela tarde em que eu corria para a serraria, eu olha o azul do céu e pensava que o mundo era para sempre, que todo o prazer ao meu dispor era afundar meu corpo no monte de serragem fria, e viajar, perdido, no aroma da madeira recém cortada.
Ah, como estou longe de casa, e como dura esta viagem! Será isto, o inferno?

sábado, julho 25, 2009

Quem me sentiria...

... E na verdade, que sentimento se desenha na minha fisonomia, neste apagar das luzes? E se algum sentimento se expressa em minha face, quem poderia percebê-lo? Por que tenho esta preocupação, ou esta necessidade descabida de ser sentido por alguém?

quinta-feira, julho 23, 2009

Diário do Fim do [meu] Mundo...

[Para você, é claro!]

Ah, a beleza das mulheres - a voz, os cabelos, as mãos, os pés, a suavidade das curvas, os olhos - perco-me, desoriento-me; em qual traço fixar a minha atenção!? Em cada uma delas, há um traço que sobressai mais! Ah, como a vida é torturante, curta - morro, a minha já vai acabar! Aquela voz que fazem quando me agradecem uma gentileza - "obrigada...!"... huumm... esta simples palavra dita no feminino - loucura! - tenho vontade de ser gentil com elas milhares de vezes por dia, só para ouvir esta "música" - "obrigada..."

Eu sei ser respeitoso em minha admiração pela beleza das mulheres, afinal, elas têm o direito de infestar o mundo de beleza, mas em paz, sem ser molestadas com gracejos, olhares insistentes! Eu não suporto sequer ouvir falar em violências contra as mulheres - será por que fui criado apenas pela minha mãe, viúva cedo na vida?! Vou morrer sem saber por que sou como sou...

Algumas mulheres são como as obras de arte: levam-me ao êxtase, de tão belas! Mas sei bem que devem ser admiradas assim, discretamente, à distância, e se possível, até com boa iluminação, como requer uma obra de arte... Ah, e mais - tenho de me conformar que, tal como uma obra de arte num grande museu, elas vão ficar onde estão, onde querem estar - não posso levá-las pra casa, ficar pra mim! Elas são tantas, tantas... o melhor mesmo é vê-las passar e apenas suspirar, suspirar... resignadamente!

O que faço de mim, o que faço destas minhas idéias? Ah, atiro no fogo, no mar, jogo no lixo - nada valem... eu estou morrendo!

Definições... definições...

Definições... definições... concluo que não sei sentir "pena", "compaixão" de ninguém - preciso ir ao dicionário para saber o que são estas coisas!
Ah, mas eu exerço a solidariedade, a empatia - isto mesmo, eu as "exerço", pois sou nada mais nada menos que os meus atos. Solidariedade é ajudar o Sísifo que somos cada um de nós a empurrar aquela rocha montanha acima... Sísifo e a sua solidão - ah, como os deuses são cruéis!

quarta-feira, julho 22, 2009

Diário do Fim do [meu] Mundo - A ler ACS...

... e continuo a ler Annie Cohen-Solal - Sartre. Que sentido tem ler uma biografia assim, extenssíma, detalhadíssima... quantos dos infinitos detalhes serão fixados na minha mente? Temo que poucos, bem poucos! Ah, e eu que me empenho, a esta altura da vida, em esquecer coisas! Ainda assim, leio... uma biografia nos dá o entorno, as circunstâncias, e talvez, as motivações das obras escritas pelo "biografado" - no caso, isso vai melhorar a minha compreensão de O Ser e o Nada? Tenho dúvidas... quem é o "objeto" Sartre que vai emergir destas páginas?

terça-feira, julho 21, 2009

Dário do Fim do Mundo

[... do fim do MEU mundo, é claro! E o “diário”, sem a obrigação de ser diário, vai sendo reapresentado até... sei lá quando]



21/julho/2009 -
-12h08 - Definições, definições, enquadramentos!! Por que "definimos" tanto se somos seres lançados contra o tempo? Se nunca estamos certos, seguros do que fazer com a hora presente? Eu pergunto apenas; não me interessam respostas! " A vida de uma pessoa é aquilo em que ela pensa, a maior parte do seu tempo de vigília" - a matéria da "edição de hoje", de cada um de nós - óbvio? É - mas não custa repetir! A memória de muita coisa boa já foi esquecida, mas certas ladainhas fúteis que me foram repetidas - não!


19/julho/2009 -
-15h11 - será que os pássaros, as árvores sabem que hoje é domingo? As ruas da cidade sabem, pois até se amortalham para melhor expressar o espírito do dia... E lá na velha fazenda de Minas, casarão do século XIX retirado das pressas dos mundo, eu me angustiava: até o gado sabe que "hoje" é domingo, e fica mais triste!
E certa vez, já nos meus tempos de universidade, eu e um amigo tentamos desinventar o domingo - revoltados contra o tédio, ficamos bebendo num bar da Av. São João até raiar o dia seguinte... pois não deu certo a tal desinvenção! Adivinhem... a segunda-feira de correria de paulistanos apressados nos gritou bem alto que ontem foi domingo, e hoje é hoje, é segunda-feira, dia que não perdoa ninguém - "vão trabalhar, vagabundos!"
Ah, eu quero morrer num domingo, de horas mortas, ruas mortas, flores tristes, céu de chumbo, vazio da vida vindo com tudo que pode de pior assim, de encontro às gentes... massacre do tédio, mas com uma melodia de adeus final!

-05h32 - Ah, perdi o sono - mas pior: os meus pensamentos ainda estão presos lá naquele lugar, naquela rua, naquela casa, e dão sequência ao sonho ruim que me despertou!

18/julho/2009 -
-13h45 - ... escrever isto aqui não tem nenhuma implicação quanto à coerência - sou prevenido! O mesmo digo com relação à transação com este meu velho desconhecido - o meu corpo - "ele" tem cada reação, cada reação... costuma chegar antes mim a certas situações - na estação do desejo, por exemplo!

-06h43 - Acordado, logo cedo, por um grito de socorro, vindo de longe. Grito de alguém que fez suas escolhas, mas não sem ter várias oportunidades de que, com carinho, zelo, envolvimento, parentes e amigos a tentassem levar à reflexão para que agisse de modo a evitar consequências previsíveis dos seus atos - ah, como pode, na "comédia dos erros", a vida ser tão previsível! Agora, o ônus das suas condutas é materializado, neste grito pedindo ajuda, colocando sobre a minha cabeça a escolha: ajudo... ou não ajudo? Pela minha tendência natural, ajo sempre por responsabilidade, quase nunca por compaixão. A vida é ação, e o que mais exige de nós é coragem - ensina Guimarães Rosa.

17/julho/2009 -
-21h42 - Fui fraco. Não, não fui fraco. Fui fraco. Não, não fui fraco. A vida é. A vida não é. A vida é. A vida não é - sopa de pedras! Ah, travem as rodas, segurem essa carroça disparada - quero descer!

-21h35 - Fecho os olhos, pouso o rosto nas palmas das mãos e penso - penso que não valeu a pena - ou ainda vai valer? O que me incomoda é exatamente eu ter esse fio de esperança. Ah, à merda toda e qualquer esperança! Desde quando estou em guerra?!


[Penas do Desterro, 17 de julho de 2009]


****** COMENTÁRIOS *******

O diário é ontem, já foi! Tão bom ler o que foi feito dos seus dias... Não quero escrever o que fiz dos meus dias, não! Eu já os queimei mesmo! Eu acho que farei um futurdiário... Algo onde eu registre todos os dias o que farei amanhã. E não será uma agenda, pois eu tenho horror a elas! Será isso mesmo: um futurdiário! Assim, amanhã ele poderá ser um passadiário de ficcionista ou de fato realista. (vê, até o nome se muda...) Tudo assim; sendo e não sendo... Acontecendo nada daquilo, só metade ou por inteiro. Da segunda, terça ou sexta... Cuidarei que aconteça, conforme o que foi escrito... O futurdiário sim me fará diferença, pois nele colocarei tudo o que sonho! Tudo o que espero da vida que tricoto ponto a ponto até nesse domingo enfadonho! Escreverei que o domingo, este próximo que virá, será de sol, claridades e um pouco mais risonho. Beijo, Paula.
Enviado por Paula em 19/07/2009 21:16
para o texto: Diário do Fim do Mundo (continua...)

Fazia tempo que eu não lia algo assim, com este gosto de riso gostoso e este gosto de escreva mais.Isto é o que chamo de um diário e destaco: "Fui fraco. Não, não fui franco. Fui fraco. Não, não fui fraco. A vida é. Não, a vida não é"... O que pode ser melhor que perceber estas nossas batalhas interiores? Bjos
Enviado por Maria Helena Sleutjes em 19/07/2009 14:07
para o texto: Diário do Fim do Mundo

Excelência em sua prosa! Nossas escolhas podem ser um momento difícil, mas pode render muitoooooo..
Enviado por Teca em 19/07/2009 08:36
para o texto: Diário do Fim do Mundo

Gritos de socorro, pedidos de ajuda... Ás vezes a melhor ajuda é não ajudar, deixar que o peso das escolhas recaiam sobre quem escolheu não nos ouvir... Nem sempre somos responsáveis pela irresponsabilidade alheia. Mas é sempre difícil ignorar os gritos, mesmos quando silenciosos... Bjos e até mais..
Enviado por Clara Mara em 19/07/2009 00:45
para o texto: Diário do Fim do Mundo