quinta-feira, novembro 30, 2006

Ao espelho... Plexos da dor

...A dor tem hora marcada
Para sair de dentro da gente?
Até deveria de ter,
Mas não tem não!

Seria tão bom, tão bom
Se eu pudesse determinar
A hora para que ela saísse...
Viajando meus olhos adentro,
Eu clamaria ao espelho:

“Não, minha dor, ainda é cedo
Não cumpriste todos os circuitos,
Regiões do meu ser ainda te aguardam!”

Poesia serve para isso, para voar sobre abismos... ou não? Para que serve a poesia? Para curto-circuitar sentimentos? Para aproximar-te de mim? Para te afastar de mim? Para que serve a poesia? Por que eu penso que sei o que é poesia, mas quando a olho de perto, eu vejo que não sei? Por que sou sempre ambígüo embora esteja sempre cheio da intenção de ser direto? Por que eu penso que sei o que é o amor, mas quando o tenho, não o enxergo e só o sinto quando o perco? Por que o amor é a falta de... e nunca a plenitude de... ?? Para que viver, afinal? Para quê?

terça-feira, novembro 28, 2006

Fragmentos poéticos... Se eu soubesse a que vim...

Carlos, Carlos, se desde os teus cinco anos,
Sabias que o mundo é dos cabotinos,
Que o mundo é sem fim, sem remendo,

Que os poentes tingem de sangue as estradas
E resultam nesse gosto vermelho de terra,
Nessa secura da boca, nesses ossos brancos,
Por que te empenhastes tanto em compreender?

Compreender não é preciso,
Compreender é coisa menor,
Não abre as interrogações instigantes
Do fel do descompreender!

sexta-feira, setembro 15, 2006

Fragmentos poéticos... A Sensível Pele da Relação

[Contradições, contrapontos...desalinhos!]

Ainda ontem, eu parecia eterno,
Meu ser navegava num oceano infinito.
Mas esta manhã, olho no espelho
E vejo uma mancha-surpresa na pele;

A primeira coisa em que penso: é a idade;
O meu tempo desenhando-se no rosto,
O vesperal da podridão das minhas carnes,
O absurdo fim da vida já se aproximando?!

Pois foi assim que senti o primeiro baque,
O primeiro choque na relação amorosa:
Uma súbita queda do pedestal da ilusão
Foi o preço de eu não ser só epidérmico.

Desenhou-se em meu rosto não o tempo,
Mas o estupor do luto da perda iminente,
O vazio já prenunciado no grito surdo,
A larga solidão do leito frio a me esperar...

Será exagero? Não há amor sem exageros;
Como poderia eu ser apenas epidérmico
E ainda assim cavalgar pelos páramos
Do gozo que se prolonga até o amanhecer?

[Se acaso não sabes, vida é a contrapelo!]
Das relações... Instâncias do Amor: filhos

" Um filho é uma outra hipótese de vida, é o que não fomos, na melhor das hipóteses, herda-nos o lixo --- angústias cegas, impaciências, o barro que resiste à modelagem, o que não quisemos ser...

Conheci muitas crianças feitas no desespero de uma reconciliação, concebidas in memoriam da felicidade de outrora. Outras marcavam o auge exacto da paixão --- momento do esplendor antes da morte. Todos os filhos nascem póstumos de um amor que já não flutua no ar que respiram."

(Inês Pedrosa --- "Fazes-me falta" -- Editora Planeta do Brasil - 2003)

quinta-feira, julho 20, 2006

No jardim da Filosofia... tempus fugit

Na minha ingênua ânsia de ser a medida das coisas,
Foram pífias as armadilhas que preparei
Para capturar o Tempo — deu em nada!

Pois, no sertão que vige em mim, o tempo foge...
Fugiu-me por entre as brechas da memória,
Ficaram só aqueles parcos restos de nada:
O tempo nasce da minha relação com as coisas!
Fragmentos poéticos... ser-se, eis a questão!

A ânsia da normalidade é coisa dos fracos,
Dos que lambem, no barro fedorento
Da habitualidade, as pegadas dos ousados,
Aqueles que rompem costumes firmados,
E derrubam os olhares no chão!
Fragmentos poéticos... o equilibrista

Na paisagem deserta,
O rumo do poente,
As pedras,
Os dormentes,
Os trilhos,
E sobre os trilhos, eu,
Um reles equilibrista.

quinta-feira, julho 13, 2006

Autoconfissões... Um lamento na tarde.
O que eu faço com esta tarde de inverno assim tão linda? A quem mostrá-la... that is the question! Ah, esses julhos da minha vida, passando, passando... ah, aquelas tardes em que a felicidade era só um simples café- com-leite e um pão com manteiga! Agora, esse julho assim, vazio, apenas frio...

terça-feira, julho 11, 2006

Fragmentos poéticos... Do carinho

Na suavidade do carinho,
A latência de um desejo calmo
Que apenas espera o instante
De se transformar em viva brasa.

sábado, julho 08, 2006

Das relações... as torres do ciúme
Eu te alucino nos braços de outro, chego a ver as marcas que ele vai deixar em teu corpo, ouço-te ouvindo as nossas músicas com ele, falando as minhas falas com ele, falando os meus poemas para ele... e te maltrato com as minhas suspeitas, com a minha fúria... pobre de ti, objeto do meu ciúme, pobre de mim, corroído pelo veneno de meu ciúme!
Fragmentos poéticos...
Estradas
(Olhando as corredeiras do Rio Araguari...)

Estradas... estradas várias... infinitas,
Sinuosas, entrecruzadas
De verdes esperanças
E de eternos adormeceres...

Algumas,
Brancas como se polvilhadas de sal,
Rebrilham promessas dos amanheceres...

Outras,
Vermelhas de poentes,
Fecham-se no sem-fim de tristezas dos entardeceres.

Estradas que me levam,
Estradas que me viajam!
Meus pensamentos,
Nuvens brancas no azul infinito,
Fogem, levam longe a minha alma,
Solta, leve, sobre os vales e os rios...
Paragens maravilhosas dominadas pelos altos
Penhascos do meu Planalto Central ...

Estradas sem fim,
Estradas sem rumo,
Estradas que não têm conta de mim...
E, no entanto, sonho em chegar!!
No jardim da Filosofia...
Se de alguma forma lhes pareço arrogante, perdoem-me a fraqueza; é que posso estar num daqueles momentos em que me esqueço da minha finitude, e de que a vida é o aprendizado da morte.

quarta-feira, julho 05, 2006

No jardim da Filosofia... "a morte e o tempo reduzem a pó todas glórias do esforço humano"
Sísifo, o herói absurdo:
" Ele o é, tanto pelas suas paixões quanto pela sua tortura. Seu desdém pelos deuses, seu ódio pela morte e sua paixão pela vida fizeram com que ele recebesse aquele inexprimível castigo no qual todo seu ser se esforça para executar absolutamente nada. Este é o preço que deve ser pago pelas paixões neste mundo. Nada nos é dito sobre Sísifo no inferno. Mitos são feitos para a imaginação soprar vida neles. Quanto a este mito, vê-se simplesmente todo o esforço de um corpo esforçando-se para levantar a imensa pedra, rolá-la e empurrá-la ladeira acima centenas de vezes; vê-se o rosto comprimido, a face apertada contra a pedra, o ombro que escora a massa recoberta de terra, os pés apoiando, o impulso com os braços estendidos, a segurança totalmente humana de duas mãos cobertas de terra. Ao final deste longo esforço medido pelo espaço e tempo infinitos, o objetivo é atingido. Então Sísifo observa a rocha rolar para baixo em poucos segundos, em direção ao reino dos mortos, de onde ele terá que empurrá-la novamente em direção ao cume. Ele desce para a planície. É durante este retorno, esta pausa, que Sísifo me interessa.
Um rosto que trabalhou tão próximo à pedra, já é a própria pedra! Eu vejo aquele homem descendo com um passo muito medido, em direção ao tormento que ele sabe que nunca terá fim. Aquela hora, que é como um momento de respiração, que sempre voltará assim como seu sofrimento; é a hora da consciência. Em cada um destes momentos, quando ele deixa as alturas e gradualmente mergulha no covil dos deuses, ele é superior ao seu destino. Ele é mais forte do que sua pedra." ---- Camus, O Mito de Sísifo
Fragmentos poéticos...
Assumo o meu vário modo de ser:
Nada mais substituível que uma tristeza, nada!
Trocar a pessoa que está na alça da mira,
Ou seja, na relação direta mundo a mundo,
Dói apenas por um semibreve instante,
É como arrancar uma planta do nosso jardim
Para que outra cresça, e assim, sucessivamente...

terça-feira, julho 04, 2006

Autoconfissões...
Quantas raízes assim profundas terão sido reviradas ao sol, nem eu sei... mas hoje, sinto o peso delas em minhas costas...
Fragmentos poéticos...

Olhei o céu, vi que não era o meu,
Então, cerrei os olhos e esperei a morte,
Lamentando apenas e tão-somente,
Estar longe, bem longe de Minas.

Ah, que longe estou de Minas...
Morto, será que me levarão para lá?
E será assim, tão ruim, morrer
Longe de casa, em terra estranha?
Das relações... Instâncias do Amor.

Roland Barthes, no seu livro "Fragmentos de um Discurso Amoroso" (Ed. Martins Fontes, S.Paulo, 2003) resgata instantes críticos da relação amorosa expressos na linguagem do "sujeito amoroso" através dos tempos. E quando Barthes fala do Abraço, "o sonho da união total com o ser amado", surge uma sublime definição do amante:

"Além do acasalamento (aos diabos com o Imaginário), há este outro abraço, que é um enlaçamento imóvel: estamos encantados, enfeitiçados; estamos no sono sem dormir; estamos na volúpia infantil do adormecer: é o momento das histórias contadas, o momento da voz que vem me hipnotizar, me siderar, é o retorno à mãe... durante esse abraço infantil, o genital acaba por surgir; ele corta a sensualidade difusa do abraço incestuoso; a lógica do desejo põe-se em marcha, o querer possuir retorna, o adulto se justapõe à criança. Sou então dois sujeitos ao mesmo tempo: quero a maternidade e a genitalidade.(O amante poderia ser assim definido: uma criança de pau duro; assim era o jovem Eros)"

Fragmentos poéticos...

Tímido

Tão tímido, tão tímido eu era
Que ao avistar de relance um conhecido,
Fosse quem fosse, não importava,
Eu preferia deixar que a minha

Inadaptação ao mundo
Jogasse na terra o meu olhar;
É melhor não ver, não ser visto,
E nem tocado pelo outro, eu pensava!

segunda-feira, julho 03, 2006

Fragmentos poéticos...

A Geografia do meu Rosto — Errâncias...

Assim, assim... cerra os teus olhos úmidos,
Deixa livres como uma pluma os teus pensamentos,
E tateia o meu rosto com a maciez de teus lábios;
Explora os desvãos do relevo de minha face — sinta-me!

Eu te respiro... te alucino em cada movimento,
Deixo-me tocar profundamente, como quem vai
Para longe de si, para além da teia dos tormentos,
E entrego-me assim, langue, ao teu carinho;

Eu te peço: analisa-me, desvenda-me — sinta-me!
Quero que descubras sendas ocultas de mim,
E na lenta fervura do inferno das penas de mil escolhas,
Desveles os caminhos da geografia do meu rosto!

Síntese da revolta de forças de telúricas profundezas
Prestes a desencadear uma erupção incandescente,
O meu choro brota quente, e percorre esses caminhos
Até queimar em meu rosto... eis-me em tuas mãos!
Autoconfissões:
Ah... sem essa de me chamar de pessimista! Eu sou assim mesmo, inconformado, mas não ressentido! Costumo pendurar as minhas queixas num varal que dá para a rua do mundo. Tenho sempre essa esperança boba de ser flagrado por alguém interessante... será você?!